Com a ambição de ver sorrir as pessoas que possuem a diferença e fazer com que estas possam acreditar num futuro mais justo e igual para todos os cidadãos, desejando que a justiça e a igualdade vigore na nossa sociedade para que todos juntos possamos seguir pelo mesmo caminho, rumo à felicidade e liberdade, propusemo-nos a fazer o levantamento das barreiras arquitectónicas, tal como a desenvolver actividades que promovam a inclusão social e consequentemente a eliminação das barreiras físicas, comunicacionais e sociais.

     Com os mesmos propósitos, participámos no Concurso Escola Alerta, cujo conhecimento da sua existência foi-nos dado pela Câmara Municipal de Ourém, demonstrando-se também interessada a tornar a sociedade do concelho Oureense mais justa e igual, eliminando as barreiras que no seu espaço se encontram.

 
Fonte: Sinto Muito, de Nuno Lobo Antunes

“Que vida merece ser vivida?”

 “(…) O nascimento de uma criança com defeito neurológico, tal como o anúncio de um cancro num filho, transporta a mulher para patamares inimagináveis de dor. Difícil o papel do médico: mensageiro da má notícia, oráculo da tragédia. Como poderá ser, em simultâneo, o suporte da esperança? Se esta reside na falibilidade do médico, como confiar naquele que se deseja errado? Quantas vezes fui acusado de brutalidade no anúncio da má nova, quando a violência está na própria notícia! A maturidade do médico atinge-se quando percebemos que a zanga, que parece dirigir-se contra nós, tem outro destinatário, de que somos, apenas, o embaixador. Deus, porventura. A mãe de uma criança com paralisia cerebral jurou que um colega, de irrepreensível gentileza, teria comparado o futuro do seu filho ao de uma couve! Curioso este fenómeno, que Freud conhecia bem, em que se projecta no outro, e nas suas palavras, as nossas próprias angústias e medos. A esta fase de zanga segue-se, no processo do luto, uma espécie de negócio ou desafio à natureza. Este tem as raízes não muito longe do húmos religioso, ou seja, no milagre do amor. Assim como Cristo salvou o Homem com o seu sacrifício, também a mãe, com idêntica abnegação e devoção, será capaz de modificar o destino do seu filho, através de forças que a ciência desconhece ou não leva em conta. Nesse momento, mãe e médico encontram-se em campos opostos, quase adversários, já que a frieza da análise técnica é inimiga do sonho. Período difícil de navegar, porque por ele esperam os vendilhões da esperança, desejosos de (se) alimentarem do sentimento que, segundo dizem, é o último a morrer. Período também, muitas vezes, de rotura conjugal. A criança só se salvará se por ela for feito «tudo». Naturalmente que «tudo» inclui um sem número de terapias, desde as aceitáveis às irrisórias, e viagens a países subdesenvolvidos, onde a falta de avaliação científica rigorosa permite especulações que os media portugueses, de imediato, ampliam. Alguém terá esta disponibilidade total, e não é, o mais das vezes, o pai. A relação entre a mãe e o seu filho é de tal forma simbiótica que o homem se sente excluído. Parte vítima, metade carrasco. É certo que alguém tem de suportar os encargos financeiros e que a competição no mundo do trabalho é impiedosa, mas também é verdade que ao homem é mais dolorosa, em regra, a «ferida narcísica», criada por um filho imperfeito. A relação do casal torna-se frágil, de extrema vulnerabilidade. Uma palavra mal escolhida, a investigação de possíveis explicações no «teu lado» da família, a insinuação, ainda que ao de leve, de um menor cuidado na gravidez, aumentam a culpa já de si tão difícil de gerir. A mulher sente-se então abandonada pelo seu marido que, ausente no trabalho, não a acompanha às consultas ou tratamentos. Vê nesse comportamento não só um menor amor pela criança como também uma acusação implícita à sua própria imperfeição, ou não tivesse sido ela incapaz de gerar um filho sem mácula. É inútil o argumento das necessidades profissionais para garantir a subsistência da família. A ideia de abandono gera medo e zanga, perturba a relação afectiva, a vida amorosa. A resposta do homem consiste num afastamento cada vez maior, criador de um círculo vicioso, que termina, tantas vezes, em divórcio. Nesta altura o médico é idealizado. É ele que escuta, tem disponibilidade e diminui a dor. Transforma-se no «pai» ideal, e como tal, no «marido» perfeito. Novamente é necessária maturidade profissional para compreender esta fantasia, e perceber as suas origens e consequências. Nunca fui tão competente como nas vezes em que, durante este processo, senti que ajudei casais a não perderem o seu rumo, arte de navegar que não se ensina na Faculdade de Medicina.

     O nascimento de uma criança doente é a morte do filho idealizado. Esse luto é inevitável e até saudável, terminando na aceitação da realidade e em atitudes sensatas e realistas. O milagre do amor permanece sempre, tão mais notável quanto uma criança, mesmo «deficiente», desperta sempre uma ternura fácil. Mas não são, em geral, bonitas, sobretudo quando crescem e atingem a adolescência e a idade adulta. A diferença do «normal» é cada vez mais evidente, porventura chocante. Os olhares na rua, de curiosidade ou de sentimento ainda menores, são sinais quotidianos de que aquela criança é notada pela diferença. São, então, jovens vulneráveis, de autonomia limitada, e é grande, cruel e complexa a Cidade. Numa vida de alta competição, quem se preocupa com o elo mais fraco? E depois chega a angústia maior: a certeza de que é finita esta passagem pela terra, e que a ordem natural das coisas leva a que, muitas vezes, se recolha primeiro o pastor que a ovelha. Quem cuidará então daquela criança que ainda antes de nascer foi tão desejada e amada, fruto de uma mulher nova bonita, que nada faria crer tivesse um filho menos que perfeito. Filho por quem se esgotaram as lágrimas, por quem a mãe envelheceu e descuidou a aparência porque nada era mais importante. Criança que deu também tantas alegrias quando conseguiu realizar, em tempos de descontos, aquilo que outras fazem com naturalidade e segurança em apenas alguns meses de vida: sentar-se, andar, algumas palavras. Mãe que envelheceu temendo que, com o crescimento, o seu filho se apercebesse, de forma cada vez mais consciente, da sua diferença e que, com isso, sofre. E ela, mãe, impotente para travar esse sofrimento. Falhanço miserável, para quem tinha uma ambição simples: ver o seu filho feliz.

                Como médico, já tenho netos, isto é, já consultei filhos de crianças que, em tempos, observei. Ao longo da minha vida, envelheci ao lado de famílias que em mim confiaram para as acompanhar nesta viagem especial. O André, o Ruca, a Sara, tantos outros, para quem o milagre do amor foi tão natural como a própria existência. Seria tolice imaginar que é bom ter um filho deficiente, mas que pense duas vezes quem julgue poder determinar, com saber e autoridade, que vida merece ser vivida.”
 
terça-feira, 8 de Dezembro de 2009
 Publicado em : http://cadernodaritacuca.blogspot.com/2009/12/sorriso-da-diferenca-um-exemplo-seguir.html

"Sorriso da Diferença" - Um exemplo a seguir!

Três finalistas do 12º ano do Centro de Estudos de Fátima desenvolvem um trabalho para a Área de Projecto. O tema escolhido para esta área curricular foi Patologias Psiquiátricas, tendo como título "O sorriso da Diferença".
O projecto consiste num conjunto de actividades lúdicas, que decorrerão em Fátima, durante o mês de Abril, com o objectivo de sensibilizar a população para a questão da deficiência.
O jovens agarram o projecto com paixão e ambição, querendo dar o seu contributo contra a discriminação. Cada um dos três alunos patilha a sua visão sobre a deficiência, tendo todos o mesmo objectivo.
“Quero dar a conhecer à população em geral esta realidade, quero aprofundar os meus conhecimentos acerca da temática em causa e sobretudo puder contribuir para um mundo mais sensível onde a diferença não seja vista de lado!!!” – diz o Vasco.
Joana conta que se sente revoltada com a forma negativa como a sociedade olha para os deficientes: “Pretendo, assim, através do trabalho de Área de Projecto, mostrar à sociedade que as pessoas portadoras de certas doenças têm, tal como todos, imensos objectivos, querendo também colaborar na diminuição dos obstáculos injustificados que lhes são colocados durante o caminho para alcançar os seus sonhos. Desejo, sobretudo, contribuir, o pouco que seja, para alterar a visão errada que a maioria da sociedade tem em relação a esta temática”. Assim como Cláudia: “encaro este projecto como uma possível forma de mudança, de mentalidades, ideias, costumes da nossa sociedade, apesar de ser um projecto muito ambicioso, bem sei, e talvez inglório, pois vivemos um “país fechado”, retrógrado quando toca à diferença, à novidade. Infelizmente, vivemos numa sociedade que rejeita, desrespeita, “agride” as pessoas que têm uma diferença, a qual deveria ser vista com normalidade, carinho e afecto, pois são pessoas que não têm culpa de serem portadoras de determinada doença, que têm sentimentos, ideias, objectivos e sonhos, como os “ditos normais” e portanto precisam de ser ouvidos, ajudados a realizar esses sonhos, a mostrar as suas qualidades, a serem felizes. Por isto tudo, considero imperioso fazer alguma coisa para que os direitos destas pessoas sejam finalmente cumpridos e respeitados. Anseio mudar a mentalidade da sociedade, ambiciono deixar a minha marca, numa sociedade tão egoísta, torná-la diferente e mais uniforme, algo, que parece impossível, mas tenho algo dentro de mim que obriga a agir e não baixar os braços, pois esta realidade, em que hoje vivemos entristece-se-me”.
Numa sociedade individualista como a nossa, é de louvar que três jovens, sem qualquer tipo de incapacidade, se preocupem e disponham a lutar contra a discriminação das pessoas com deficiência. Que muitos outros sigam o seu exemplo, porque só assim é que teremos um mundo mais justo, unido e feliz!
O grupo pediu-me ajuda e eu não pude deixar de dar o meu pequeno contributo para este grandioso projecto. Para tal, criei o logótipo “Sorriso da Diferença”.
Publicada por Rita C.
 
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